Na avaliação nutricional do paciente, o recordatório alimentar é uma ferramenta extremamente importante para que possamos avaliar sua ingestão habitual, possíveis déficits nutricionais e onde na rotina alimentar é mais provável que esteja presente o consumo calórico excessivo.
E durante esse recordatório, ao longo dos anos, percebi um comportamento bem comum entre vários pacientes... Quando pergunto sobre as grandes refeições, é corriqueiro que haja uma pausa e um certo "freio" na hora de relatar a porção do arroz e, até mesmo, alguns pacientes já relatam antes "o arroz eu como pouquíssimo", como se existisse algum problema sobre a presença desse alimento no cardápio.
Essa pausa reflete e reforça o MITO de que o arroz seria um "vilão" e um dificultador dos resultados do processo de emagrecimento, o que cada dia mais tenho certeza de que se trata de uma visão distorcida sobre este cereal.
E nesses anos de atendimento em que fiz o acompanhamento de mais de 2.000 pacientes, não me lembro ao me os um paciente em que o consumo de arroz realmente fosse um problema ou um dos possíveis favorecedores do ganho de gordura corporal. E não tenho a menor dúvida em reforçar que, aqueles que acompanho o histórico da evolução do peso corporal, que retiraram por conta própria o arroz da dieta, acabam reganhando o peso e sofrendo com efeito sanfona em longo prazo (claro que esse efeito não é devido exclusivamente da retirada do arroz, mas sim pelo desconhecimento e falta de orientação profissional que dificulta o paciente em enxergar onde realmente está o comportamento/hábito problemático).
Sempre que o paciente exclui o arroz das grandes refeições, alimento esse que possui um importante aspecto cultural e sabor insubstituível para muitos, ele acaba reduzindo o volume alimentar de um alimento que não possui uma alta densidade energética. Por exemplo, 100g de arroz cozido (4 colheres de sopa ou 2 de servir) possui aproximadamente 125kcal, densidade bem inferior a de um pão de queijo médio que pode apresentar até 150kcal em uma única unidade.
Essa restrição desse alimento pode fazer com que a refeição principal não dê saciedade e satisfação suficiente, favorecendo o aumento do apetite no período da tarde e jantar. Esse aumento do apetite pode reduzir de forma bem significativa a qualidade das escolhas alimentares e, inclusive, favorecer o aumento do consumo de quitandas, alimentos industrializados e outras opções que são hipercalóricas, resultando no ganho de peso ao longo das semanas.
Então, é muito mais interessante que esse paciente receba a informação correta e mantenha uma porção adequada de arroz nas suas refeições, cuja quantidade dependerá das suas individualidades, do que excluir esse alimento e aumentar o risco de compensações posteriores que serão ruins ao seu estado nutricional.
E lembre-se: se você anda excluindo o arroz para emagrecer, que tal preencher um recordatório alimentar por pelo menos 20 dias, incluindo os finais de semana? Você perceberá que os erros alimentares não estarão nesses alimentos mais naturais, mas sim em outras escolhas comuns feitas em aplicativos de comida, ingestão de bebidas alcoólicas, alimentos industrializados e perda de rotina aos finais de semana.
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