A intolerância à lactose é a má absorção mais comum na prática clínica. Nesse quadro, o paciente apresenta deficiência na produção da enzima LACTASE pelas células do intestino, especificamente na região de microvilosidades conhecida como borda em escova. Essa deficiência impede a clivagem da lactose presente nos laticínios, fazendo com que o açúcar permaneça intacto e não seja absorvido pelo organismo. Como consequência, a lactose permanece no intestino, causando sintomas como gases, distensão abdominal, desconforto, diarreia/constipação, náuseas, vômitos, arrotos e, em alguns casos, sintomas extra digestivos, incluindo cefaleias (dor de cabeça).
A maioria dos pacientes com intolerância à lactose recebe um diagnóstico impreciso, muitas vezes através de exames sanguíneos que geram falsos positivos. O teste mais comum para o diagnóstico é o sanguíneo, no qual o paciente ingere 50g de lactose no laboratório e tem sua glicemia monitorada. Caso a glicemia não suba o suficiente, é diagnosticada a intolerância à lactose. No entanto, esse exame sanguíneo gera muitos resultados falsos positivos. O exame considerado padrão ouro para diagnóstico de intolerância à lactose é o Teste do Hidrogênio Expirado para Lactose, que requer que o paciente siga uma dieta pobre em alimentos fermentáveis no dia anterior e, durante o exame, ingira 25g de lactose e realize aferições do hidrogênio expirado a cada 30 minutos durante 3 horas. Caso os níveis de hidrogênio (ppm) aumentem significativamente na presença de sintomas, o diagnóstico é fechado de forma mais assertiva.
Um grande problema na prática clínica é o diagnóstico feito por meio do exame sanguíneo, que frequentemente é solicitado sem os critérios adequados. Muitos pacientes relatam nunca ter tido qualquer queixa relacionada ao consumo de laticínios, mas foram submetidos ao teste sanguíneo, cujo resultado foi positivo. Nesses casos, nos quais o indivíduo não apresenta sintomas com o consumo de lactose, a solicitação do exame sanguíneo não se faz necessária, assim como a exclusão dos laticínios, uma vez que a presença de sinais clínicos é essencial para o diagnóstico correto. Da mesma forma, se o paciente consome laticínios e percebe uma relação entre a ingestão desses alimentos e o surgimento de sintomas gastrointestinais, que cessam com a exclusão desse grupo de alimentos, muitas vezes não é necessário realizar o exame. Já fica evidente a existência de algum grau de intolerância alimentar, sendo importante o manejo nutricional para melhorar essa condição.
Além disso, o fato de ter intolerância à lactose não é motivo para desespero. Atualmente, as farmácias disponibilizam enzimas digestivas de lactase, que podem ser utilizadas sempre que você for consumir alimentos com lactose e podem reduzir os sintomas em mais de 50% dos pacientes (cerca de 40% não respondem bem ao uso das enzimas lactase). Além disso, você pode optar por preparações e laticínios sem lactose para evitar os sintomas decorrentes da intolerância. É importante ressaltar também que, assim como qualquer outra intolerância alimentar, a intolerância à lactose é quantitativa. Ou seja, a maioria dos pacientes com essa condição tolera de 8 a 12g de lactose por dia, podendo consumir a maioria dos queijos, iogurtes e até 1 copo pequeno de leite.
E caso você tenha sido diagnosticado com intolerância à lactose e tenha excluído esse grupo de alimentos, mas seus sintomas gastrointestinais persistiram, é importante continuar a investigação com um profissional capacitado, pois existem diversas outras intolerâncias alimentares e outras condições clínicas que apresentam sintomas semelhantes às má absorções. Portanto, busque sempre orientação especializada antes de excluir grupos alimentares por conta própria.
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